NICK ON
       Já eram três e meia da manhã quando resolvi ir embora. Andrew foi comigo, já que ele não estava tão bêbado quanto eu. Não tinha condições nem pra falar. Na estrada, fiquei pensando naquela noite e no Taylor agarrando Demi antes de ela ir embora. A mesma passou por mim e fingiu que eu nem existia, mesmo notando que eu a observava. Ah, como eu quis ter a ousadia em puxá-la e fazer tudo que eu pensava em fazer com ela naquele momento que eu estava totalmente fora de mim. Me achei um otário por não agir por medo. Pareci um adolescente nerd virgem apaixonado pela gostosona que o usa e o esnoba, e que só se sente no direito de ter os pensamentos mais obscenos com ela, já que a timidez impede de agir. Mesmo bebado! Que Nick era aquele? Fiquei furioso comigo mesmo. Caralho, como fiquei!
       Acreditam que Kim quis sexo de novo? Ela estava muito embebedada. Tinha tirado a calcinha na pista me provocando, mas pra dizer a verdade ela foi santa comparando-se a outras na pista. Tinha uma garota com cara de no mínimo 15 anos tirando a blusa e deixando os seios á mostra. Mesmo sendo homem aquela cena não me agradou. O que o pai de uma garota daquela pensaria que ela estava fazendo naquele momento? A jovem era intercambista, certeza. Sou inglês e conheço muito bem a atitude das minas inglesas. Elas tiravam a roupa só na frente do cara com qual estava ficando na balada se quisessem sexo. Kim era prova de que não tinha nenhum pouco desse bom senso. Os pais de uma garota como aquela que fez topless deviam estar dormindo de consciência tranquila achando que a filha menor de idade estaria dormindo segura naquela hora da madrugada. Fico indignado!
       Já com o tema "Kim", claro que não recusei sexo. Com a quantidade de alcóol correndo pelas nossas veias nem me lembro direito onde aconteceu. E quanto ao ato nem preciso descrever, né? Mais bêbada do que antes, Kim urrava com cada investida que eu dava. Me perguntava involuntariamente se seus gritos eram audíveis a outros que curtiam a balada. Mas dane-se, estava envolvido demais e bêbado demais pra pensar nisso.



- Nossa, olha aquilo ali. - Andrew referia-se ao outro lado da pista um pouco a frente enquanto esperávamos o sinal abrir.
     Haviam dois carros da polícia, um da ambulância e a perícia. A pista estava fechada pra passagem. Dois carros estavam envolvidos na parada, um deles pareceu ser jogado para fora da pista e outro, um conversível estava destroçado na pista e capotado, o lado do motorista estava acabado. Nada se aproveitaria daquele carro para ser usado novamente, ia direto pro ferro-velho! Dois corpos estavam cobertos com um pano branco no chão e vi somente um cara sendo carregado numa maca. Putz, foi sério! Chegando bem mais a frente no próximo sinal, ficamos ao lado da pista á esquerda.
- Espera aí, aquele carro é da Demi?! - ouvi Andrew indagando ou afirmando desesperado. Desesperei também ao pensar na possibilidade.
- Vamos lá ver... - eu disse num sussurro desesperado quase inaudível.
       Andrew estacionou o carro e descemos, atravessando a rua quase correndo mesmo o movimento de carros sendo quase nulo.
       Andrew surtou quando chegamos mais perto. Fui no ritmo. Com o desespero lembrei involuntariamente que nossa situação não era das melhores para ficarmos perto da polícia.
- Brother, vamos sair daqui. Estamos bêbados, lembra? - eu disse com um sussurro.
- Porra Nicholas, cala a boca! O carro é da Demi! Somos os únicos que conhece ela aqui!
       Quis matar meu irmão. Seus gritos atiçaram os policiais presentes, obviamente. Seus olhos só lacrimejavam. Não me senti bem com aquela situação: acidente, Demi, alcóol. Tudo isso não se encaixava direito na minha cabeça, não naquele momento no qual eu estava envolvido.
- Tá louco? Eu vou embora. - sussurrei e o deixei lá.
       Fui andando no rumo de casa, de onde estávamos até chegar em casa já estava perto. Até que me perguntei o que eu estava fazendo, e se fosse mesmo a Demi que tivesse sofrido aquele acidente? Comecei a chorar. É, a chorar. Mas não me virei para olhar pra trás e nem parei de andar. Eu estava mamado. Porra, o que foi que eu fiz?!
- Ei rapaz, volta aqui! - policialzinho de merda me fez virar quando eu estava chorando. Que situação!
- Fica parado aí!
       Ergui minhas mãos para o alto e abaixei a cabeça. Ouvi seus passos cada vez mais próximos. Quando ele me virou meus olhos só lacrimejavam, ainda bem.
- Sinto cheiro de alcóol. Você bebeu?
       Não respondi. Ele alterou o tom de voz:
- Bebeu?! Me responde, não tá ouvindo?!
- Sim. - respondi firme.
- Venha comigo. - ele prendeu meus pulsos com algemas e me levou até o local onde Andrew estava. Ele também estava algemado. Otário.
       Fizemos o teste do bafômetro que indicou que o índice de alcóol ingerido por mim era alto. Já a quantidade que Andrew ingeriu não o colocava em perigo no trânsito. Vi o carro da ambulância partir. Não sei o que tanto faziam afinal.
- Quem estava dirigindo? - um dos policiais perguntou. Andrew disse que era ele. O cara nos olhou com desconfiança.
- Senhor... - Andrew sussurrou. Eu o olhei com ódio tipo pedido de mandar calar a boca e o policial o mandou ficar em silêncio. Foi bem feito.
- Senhor...
       Alguém me segura porque se não vou cuspir na cara do Andrew pra ele largar de panaquice.
- Qual é moleque?! Não te mandei calar a boca?!
- Eu vou falar, eu quero falar! Eu conheço a garota que sofreu o acidente! Só me diz se ela está bem! - ele disse quase aos prantos. Que encanação era aquela com a minha Demi? Minha. Sim.
- Andrew cala a boca! Eu bebo demais e você que confronta o policial?! Caraca! - as veias do meu pescoço chegavam até a ser visíveis com minha fúria.
- Ah, conhece? - o policial se virou pra nós respondendo a Andrew. Pude sentir um tom de sarcasmo em sua voz. - Ah, arranja outra desculpa. Falando nisso, entrem no carro.
       Andrew entrou mas protestando. Descreveu Demi da cabeça aos pés, disse sua idade... mano, que porra era aquela? Se não estivesse algemado, eu daria um tapa em sua cara.
- Tá, tá moleque... discutimos isso na delegacia.
       Eu estava revoltado com meu irmão. Só não falei poucas e boas pra ele por receio de levar umas biscas do policial metido a valentão. Quando chegamos na delegacia, quase que fomos punidos. Tentei lembrar de alguém pra nos socorrer e John me veio a cabeça repentinamente: ele não bebia alcóol desde quando descobriu que tem problema de rins. Então falei que conhecia um responsável. Ligaram pra ele algumas vezes e na quinta tentativa (implorada por mim, se fosse por eles já estaríamos atrás das grades) ele finalmente atendeu. Nos falamos e então ele foi lá e teve que pagar pra nos livrar. Andrew parecia um louco, não pensava em nada a não ser em como Demi estava.


- Cara, te amo! - agradeci John o abraçando de lado, Andrew só deu um sorriso grande com os lábios.
- Qual foi a tua Andrew? - indagou John calmo.
- Hm? Ah, nada.
- Tá... - ele disse num tom de ironia.
       No caminho para casa ficamos em silêncio. Apenas Andrew parecia inquieto. Fiquei me perguntando se ele estava gostando da Demi, mas provavelmente não, ele sempre foi do tipo preocupado. Parece um pai e isso chega a ser chato ás vezes.
- Valeu irmão! - agradeci - Te pago na facul. Desculpa ter estragado tua noite.
- Nem vem... e minha noite já foi escrita, esse foi só um imprevisto irrelevante - ele disse dando um sorrisinho.
- Obrigada mesmo John. - Andrew falou calmo e John assentiu.
       Quando deitei em minha cama não pensei em nada, só fechei os olhos. Bons sonhos para mim.

No dia seguinte

       Acordei quase no horário do almoço. Ah, como amo finais de semana. Fiz minha higiene matinal, tomei um bom banho e fui pra sala assistir TV. Não tenho o costume de tomar café, então nem ligo. Senti falta de Andrew, ele costuma acordar cedo. Fui procurá-lo em seu quarto e estava trancado. Então ouvi o final de uma conversa:
"Ah... tá bom, tá bom. Obrigada por avisar, de verdade. Então quando for o horário da visita, eu vou (....) Tá, tchau."
       A voz dele parecia bastante tensa. Pra evitar que visse que eu estava o espionando, saí de perto da porta o mais rápido possível.

- Tá indo aonde, cara?
- Hã? - ele parecia bem disperso. No mínimo, nem me ouviu.
- Onde você vai?
- Ah... - engoliu seco e olhou pro chão - vou ver... alguém.
- É a Demi, né? Pô, admite que gosta dela. Não tem nada demais.
- Mas não vai mais olhar na minha cara, né? - disse sincero - Relaxa, talvez a Demi nem saiba que nós existimos mais. Vai ter que conquistar ela de novo. - disse frio. Que papo era aquele de "nem saiba que nós existimos mais"?
- Qual é Andrew? Andou fumando? - questionei com seriedade. Ele estava maluco.
- A Demi tá na UTI em estado grave Nicholas. Tá bom pra você? - ele falou desaforado e saiu batendo a porta.
       Ele só podia estar brincando... Senti meu corpo enfraquecer. Me levantei do sofá num pulo e corri atrás dele.
- Peraí! Como é que é?
       Ele deu um passo para trás, mas sem se virar para mim.
- Foi o que você ouviu. Lembra do acidente nessa madrugada? Pois é.
       Notei um tom de melancolia em sua voz. Ele então partiu, gritei seu nome para que me esperasse, mas ele não deu a mínima. Chamei por um táxi e pedi para que o seguisse. O caminho para o hospital era longo, foram no mínimo 15 minutos para chegarmos até lá. Paguei o passeio e segui meu irmão sem que ele me notasse. Coloquei óculos de sol para garantir, mesmo não garantindo nada, pois se ele me visse saberia que era eu. Entrei no hospital e continuei o acompanhando, até que ele parou na recepção em busca de informação ou pegando autorização para visitar Demi, não tenho certeza. Me sentei numa cadeira a sua espera, mas pensei que não poderia segui-lo e entrar com ele sem pegar autorização. Que seja. Me viraria depois, tinha que ver Demi. Quando ele seguiu o corredor a frente esperei um pouco pra disfarçar e depois o segui. Antes que ele abrisse a porta, segurei seu braço.
- Nick?! O que está fazendo aqui?
- Te segui.
- Vai embora. - ele ordenou. Franzi o cenho.
- Não, eu não vou.
- Nick, sério, sai.
- Ei, por favor, me deixa entrar com você. Eu fui um idiota nessa madrugada, eu sempre sou. Me perdoa. - meus olhos marejavam.
- Não é pra mim que você tem que pedir perdão. É pra Demi. Mas - ele mordeu o lábio inferior, me olhou nos olhos e continuou a falar, porém com zanga:
- Ela tá em coma. Nem sei se vai abrir os olhos novamente. Por que você sempre foi tão egoísta? Acha que brincando com os sentimentos dos outros você consegue vencer? Não, você não vence, você nunca vence Nicholas. Pare de enganar a você mesmo.
       As palavras dele foram como um tiro no meu peito. Ele entrou, fechando a porta na minha cara. Eu desabei numa cadeira ao lado, coloquei as mãos na cabeça e chorei. Pensei nas palavras que ele havia me proferido... eu estava mesmo deixando o ego tomar conta de mim? Chorei até cochilar.


- Nick? Nick!
       Abri os olhos meio assustado e vi Avril em minha frente.
- O que aconteceu com você?
- Hã? - eu ainda estava meio desnorteado - Cadê o Andrew?
- Tá com a Demi, não?
- Faz quanto tempo que você chegou? - questionei esfregando os olhos.
- Uns cinco minutos.
- Posso... posso vê-la?
- Sim, ué. Família e amigos podem visitá-la nesse horário!
- Ninguém vai me impedir?
       Ela riu um pouco.
- Não!
- Oi Avril... - Andrew saiu do quarto, quando me viu, olhou feio para mim.
- Oi! - ela o cumprimentou e virou-se para mim - Você quer entrar primeiro?
       Meu irmão me olhou furioso, se despediu de Avril e disse que ia embora.
- Eu quero. - assenti sorrindo.

Quando entrei vi Demi acolhida perfeitamente na maca. Por mais que doesse pensar assim, parecia que ela descansava em paz. Seu rosto estava bastante machucado e algumas marcas avermelhadas logo tornariam-se um tom arroxeado. Cheguei mais perto e apoiei minhas mãos de leve em seus braços, levei uma delas a sua bochecha acariciando-na. Fiquei por pouco tempo ali, era a regra de visita. Antes de sair não resisti e selei nossos lábios, um selinho rápido, e saí.
- O que os médicos disseram? - perguntei Avril segurando a porta entreaberta.
- Não é grave. Mas corre 45% de risco de vida, segundo o doutor. Não se sabe o que vai acontecer. Só o tempo... ah, e ela não precisa de aparelhos pra conseguir respirar. Isso é bom.
- Entra e depois conversamos mais. - sorri abrindo a porta pra ela. A esperei no corredor, oito minutos depois ela saiu, ela estava chorando. A abracei e ficamos assim por um tempo. Ela soltou um suspiro pesado soltando-se dos meus braços.
- Tenho que avisar a prima dela... - disse.
- Você tem algum tipo de contato com ela?
- Não. Mas os objetos que Demi carregava no carro ficaram ilesos. O celular é um desses. Só não lembro o nome de sua prima. Mas nada que as redes sociais não resolvam.
- Quando tá pensando em avisá-la?
- O mais rápido possível.
- Como foi esse acidente?
- Não me explicaram direito. A Sara também tá envolvida, mas ela sofreu ferimentos leves e já está de repouso em casa. O ex-namorado dela com dois capangas dele a captaram na balada. Pelo que parece, o acontecimento já estava marcado. Quando a Demi ia embora, ligou em Kristen que ficou na festa e depois em Sara, que não atendia. O cara estava com o carro estacionado atrás do carro de Demi, a seguiu, ligou nela pelo celular da Sara ameaçando-na. Tudo iria acabar bem se quando a polícia tivesse chegado não tivessem atirado em um dos pneus traseiros do carro, o fazendo perder controle e capotando no rumo ao carro da Demi, o arrastando e estava do lado do motorista. Os dois capangas morreram e o autor da armação já foi prestar depoimento na delegacia. E o policial que atirou também. O envolvimento da Demi foi muito estranho. Uma armação e tanta. Foi tudo muito estranho.
- Mal-amado... - eu falei num sussurro.







--> Anony, fico muito feliz por estar gostando!! Tá aí o capítulo VII, como prometi. Boa leitura! :D

3 comentários:

Anônimo disse...

É difícil achar fics tão boa assim, serio muito perfeita e o capitulo tbm.
Posta logooo!!!
Bjs

Anônimo disse...

uma das melhores fics q ja li .. ansiosa pelo próximo capitulo pequena !

Nemi ❤ disse...

Muito obrigada gente! Anony I - obrigada por estar comentando, significa bastante! Anony II - quanta graça da sua parte! Que comentário adorável, sério! Obrigada!! ;))

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